terça-feira, 2 de julho de 2013

Arquitetura inclusiva e seus desafios

A falta de acessibilidade é a principal barreira enfrentada por pessoas que convivem com algum tipo de deficiência nas grandes cidades brasileiras. E a inclusão desta importante parcela da população – 24,6 milhões de pessoas em todo o país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é um desafio cada vez maior para arquitetos, engenheiros e responsáveis pela definição e implantação de políticas públicas que permitam aos que têm mobilidade reduzida se locomoverem com autonomia e independência. 

“Sinto-me pequenina”. O desabafo é de uma mulher, adulta, diante de mais um entre tantos obstáculos arquitetônicos que ela enfrenta diariamente em Florianópolis. A assistente social Maria Helena Koerich, de 53 anos, é cadeirante e, por isso, sofre uma série de dificuldades para ir e vir na cidade onde vive. 

A limitação, é importante ressaltar, não é por conta de sua condição física – ela perdeu o movimento dos membros inferiores quando teve poliomielite, ainda bebê. É, sim, por causas das barreiras que encontra em seu caminho para o trabalho, para utilizar o transporte público, freqüentar um restaurante, ir à praia, enfim, usar os serviços como qualquer cidadão “que paga em dia os seus impostos”, comenta ela. 

O tema da acessibilidade ganhou ainda mais força com a promulgação da Lei 8.123, de julho de 1991, que obriga empresas com 100 funcionários ou mais a contratarem pessoas com deficiência. As empresas, indiretamente, foram também obrigadas a rever a arquitetura de seus prédios, para adequar os espaços de trabalho aos novos colaboradores. O Estatuto das Cidades, que determina aos municípios a previsão da acessibilidade em seus planos diretores, também é referência para as políticas públicas locais. 

A inclusão e a acessibilidade – e não somente de deficientes físicos, mas de idosos, obesos e gestantes – não é preocupação apenas de setores da sociedade brasileira. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, estabeleceu, em 2006, que esta será a Década das Américas pelos Direitos e pela Dignidade das Pessoas com Deficiência com o lema ‘Igualdade, dignidade e participação’. Na declaração, a OEA pede o empenho dos Estados para assegurar a inclusão e a participação plena destas pessoas em todos os aspectos da sociedade. 

Com o aumento da expectativa de vida, a discussão sobre acessibilidade se espalha por diversas áreas. O IBGE calcula que nos seus últimos 14,6 anos de vida o brasileiro terá que conviver com algum tipo de deficiência física ou mental. E muitos já se preparam para isto. 

Há alguns anos, o arquiteto paulista Ricardo Vasconcelos percebeu que muitos de seus clientes na faixa dos 40 e 50 anos estavam interessados em adaptar suas casas para garantir uma velhice segura. “É importante que as pessoas levem esta preocupação também para o seu ambiente de trabalho, não somente em seu próprio benefício”, explica Vasconcelos, mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e professor dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 

O debate sobre a inclusão de pessoas com baixa mobilidade física chegou à academia e aos escritórios de arquitetura; porém, Vasconcelos acredita que a sociedade brasileira ainda é ‘muito crua’ neste sentido, mesmo tendo avançado significativamente nas duas últimas décadas. “A inclusão é um desafio para a nossa sociedade. E os arquitetos são as figuras-chave na distribuição deste conhecimento”, avalia. 


Existe ainda o problema do preconceito e desrespeito, que muitas vezes velado, contribui para o aumento das dificuldades. As pessoas além de não ajudarem, utilizam as estruturas voltadas para deficientes como se fossem delas, deixando-os desamparados. E este desafio, de vencer o desrespeito, é de longe, o mais complicado de vencer.

Fonte: IBDA

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