Porque os certificados de construção ambientalmente corretas não avaliam todos os impactos de uma obra no Brasil
Assim como outros modismos viraram tendência no mercado imobiliário, o “selo verde” também parece que está se firmando como tendência. Internacionalmente ele é reconhecido pelo certificado Leed – comprovante que uma obra agride menos a natureza. Segundo o site da instituição, desde 1998, quando ele foi criado, mais de 14 mil edifícios já receberam o tal selo pelo mundo.
No Brasil, até 2006, apenas 06 edifícios tinham o Leed. Já em 2007, com a criação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável que representa o Leeds no Brasil, 36 prédios obtiveram o selo, crescendo para 43 em 2008. Isso mostra que o setor incorporou o princípio da sustentabilidade.
O problema é que o selo verde aplicado aqui só avalia uma fração do impacto ambiental de um prédio, e nem é o de maior impacto.
Isso acontece porque os certificados são adaptações de metodologias criadas para a realidade dos EUA e da Europa, onde o principal objetivo é avaliar se os edifícios tem bons níveis de uso de energia, de economia de água, e se as adaptações estimulam o uso de transportes públicos. Lá, a principal preocupação é o impacto de uma edificação no consumo de água e energia durante o seu uso, recursos escassos, caros e que sua produção piora o aquecimento global. Nos EUA, por exemplo, 70% da eletricidade vem de usinas termelétricas que funcionam a base da queima de carvão ou óleo combustível.
No Brasil, 92% da eletricidade vem de usinas hidrelétricas e nucleares, fontes que não contribuem para o aquecimento global.
Ao contrário da Europa e dos EUA, onde as contruções são altamente racionalizadas, nosso maior problema está na construção e não no uso do edifício.
A instituição Ativos Técnicos Ambientais (ATA) realizou um estudo onde calculou as emissões poluentes de um edifício comercial na obra, durante dez anos de vida útil e na sua demolição. A primeira fase lançou mais de 30 mil toneladas de carbono na atmosfera (considerando a fabricação dos materiais utilizados, o transporte até o local, e a energia consumida por todos os equipamentos no canteiro de obra). Enquanto que os dez anos seguintes alcançou pouco mais de 20 mil toneladas.
Segundo o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em 2001, 70% da madeira ilegal da região era utilizada na construção civil. Também 70% das emissões brasileiras se originam do desmatamento. Além disso, boa parte do ferro utilizado, vem de fornos que queimam carvão vegetal, outro responsável pelo desmatamento.
Apesar deste quadro, o desmatamento ilegal tem peso muito pequeno para os principais selos verdes de construção. Isso acontece porque lá fora quase toda a madeira vem de florestas cortadas de forma sustentável – e como dito, os selos daqui se espelham nos de lá. Um dos objetivos do selo é indicar que o construtor buscou materiais e formas construtivas com menor emissão de carbono – mas ele não evidencia todas as fases e como se chegou lá.
Essas falhas não significam que o selo é inútil. Estes edifícios já apresentam grandes melhorias no impacto ambiental, tanto durante a obra quanto no seu uso. Segundo o próprio Leed, a redução no consumo de luz é de 30% e de água chega a 50%.
Em algum momento estes selos mudarão o peso da origem dos materiais. Até lá, nós podemos também fazer a nossa parte, questionando esta origem seja pra construção daquela “obrinha”, ou da sonhada casa de praia. Afinal, o mercado muda porque o consumidor muda.
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parabéns pelo artigo.
ResponderExcluirVeja também www.gruposustentax.com.br