sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pra que serve o selo verde na construção civil?

Porque os certificados de construção ambientalmente corretas não avaliam todos os impactos de uma obra no Brasil

Assim como outros modismos viraram tendência no mercado imobiliário, o “selo verde” também parece que está se firmando como tendência. Internacionalmente ele é reconhecido pelo certificado Leed – comprovante que uma obra agride menos a natureza. Segundo o site da instituição, desde 1998, quando ele foi criado, mais de 14 mil edifícios já receberam o tal selo pelo mundo.

No Brasil, até 2006, apenas 06 edifícios tinham o Leed. Já em 2007, com a criação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável que representa o Leeds no Brasil, 36 prédios obtiveram o selo, crescendo para 43 em 2008. Isso mostra que o setor incorporou o princípio da sustentabilidade.
O problema é que o selo verde aplicado aqui só avalia uma fração do impacto ambiental de um prédio, e nem é o de maior impacto.

Isso acontece porque os certificados são adaptações de metodologias criadas para a realidade dos EUA e da Europa, onde o principal objetivo é avaliar se os edifícios tem bons níveis de uso de energia, de economia de água, e se as adaptações estimulam o uso de transportes públicos. Lá, a principal preocupação é o impacto de uma edificação no consumo de água e energia durante o seu uso, recursos escassos, caros e que sua produção piora o aquecimento global. Nos EUA, por exemplo, 70% da eletricidade vem de usinas termelétricas que funcionam a base da queima de carvão ou óleo combustível.

No Brasil, 92% da eletricidade vem de usinas hidrelétricas e nucleares, fontes que não contribuem para o aquecimento global.
Ao contrário da Europa e dos EUA, onde as contruções são altamente racionalizadas, nosso maior problema está na construção e não no uso do edifício.
A instituição Ativos Técnicos Ambientais (ATA) realizou um estudo onde calculou as emissões poluentes de um edifício comercial na obra, durante dez anos de vida útil e na sua demolição. A primeira fase lançou mais de 30 mil toneladas de carbono na atmosfera (considerando a fabricação dos materiais utilizados, o transporte até o local, e a energia consumida por todos os equipamentos no canteiro de obra). Enquanto que os dez anos seguintes alcançou pouco mais de 20 mil toneladas.

Segundo o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em 2001, 70% da madeira ilegal da região era utilizada na construção civil. Também 70% das emissões brasileiras se originam do desmatamento. Além disso, boa parte do ferro utilizado, vem de fornos que queimam carvão vegetal, outro responsável pelo desmatamento.
Apesar deste quadro, o desmatamento ilegal tem peso muito pequeno para os principais selos verdes de construção. Isso acontece porque lá fora quase toda a madeira vem de florestas cortadas de forma sustentável – e como dito, os selos daqui se espelham nos de lá. Um dos objetivos do selo é indicar que o construtor buscou materiais e formas construtivas com menor emissão de carbono – mas ele não evidencia todas as fases e como se chegou lá.

Essas falhas não significam que o selo é inútil. Estes edifícios já apresentam grandes melhorias no impacto ambiental, tanto durante a obra quanto no seu uso. Segundo o próprio Leed, a redução no consumo de luz é de 30% e de água chega a 50%.
Em algum momento estes selos mudarão o peso da origem dos materiais. Até lá, nós podemos também fazer a nossa parte, questionando esta origem seja pra construção daquela “obrinha”, ou da sonhada casa de praia. Afinal, o mercado muda porque o consumidor muda.

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